Jogadora Abby Wambach beija a esposa na final da copa do mundo de futebol feminino, no canadá

Jogadora dos EUA comemora a Copa beijando a esposa na arquibancada

Abby Wambach comemorou após EUA vencer Japão na final da Copa de Futebol Feminino por 5 a 2. Futebol masculino continua fingindo que não há homossexuais em campo

por Marcio Caparica

A Copa do Mundo de Futebol Feminino teve sua grande final ontem, no domingo, dia 5 de julho. A partida entre as seleções dos Estados Unidos e Japão terminou com um placar de 5 x 2, garantindo a taça para a seleção norte-americana. A atacante Abby Wambach, parte da seleção dos EUA desde 2001 e prestes a se aposentar, comemorou ganhar a Copa pela primeira vez na vida correndo até a arquibancada e beijando sua esposa, Sara Huffman, com quem está casada desde 2013.

As últimas semanas da Copa Feminina contaram com momentos dramáticos: a seleção inglesa perdeu a vaga nas finais depois que a jogadora Laura Basset marcou um gol contra nos últimos minutos dos acréscimos, selando a derrota de seu time por 2×1.

Mas o “país do futebol” ignorou quase completamente um evento que eletrizou vários outros países ao redor do mundo. Na partida do Brasil contra a Coreia na Copa Feminina, Marta marcou seu 15º gol em Copas, com uma cobrança de pênaltis no início do segundo tempo. Vamos repetir, décimo quinto gol. Ela é a atleta que mais marcou gols em Copas do Mundo Femininas. Os brasileiros e a imprensa brasileira ignoraram solenemente esse marco, mas deram atenção a um amistoso da seleção brasileira contra Honduras. Hoje, um dia após a final, mal se encontra um artigo sobre a partida entre Estados Unidos e Japão, mas é fácil encontrar alguém remoendo a derrota de 7 x 1 há um ano, na Copa Masculina.

Marta, aos 29 anos, foi escolhida a melhor jogadora de futebol feminino do mundo 5 vezes, e esteve na lista das três melhores todos os anos pelos últimos 11 anos. Mal se fala disso em seu próprio país, como ela lamentou em entrevista à revista Tpm: “Se eu fosse atleta de um país como os Estados Unidos, que é muito forte no futebol feminino, ou da própria Suécia, da Alemanha, e ganhasse por cinco vezes o título de melhor jogadora, a atenção seria muito maior. Provavelmente, financeiramente também seria bem diferente. Isso é o reflexo da situação do futebol feminino no Brasil, que ainda não reconhece as atletas.”

O Brasil é capaz de declarar feriados nacionais em datas de jogos da seleção masculina, sofre por uma derrota de 7×1 como se fosse a morte de algum familiar querido, mas não consegue se interessar pelo talento de mulheres quando elas entram no mesmo campo que tanto serve para valorizar os homens. Não há outra razão concebível para isso que o machismo arraigado na mente brasileira.

Nada deixa isso mais patente que a declaração que Marco Aurelio Cunha, coordenador de futebol feminino da CBF, deu ao jornal canadense The Globe And Mail, explicando o que estava fazendo para que o futebol feminino ganhasse mais público no Brasil: “Agora as mulheres estão ficando mais bonitas, colocando maquiagem. Elas entram em campo de maneira elegante. O futebol feminino costumava ser uma cópia do masculino. Até mesmo o modelo do uniforme era mais masculino. Nós costumávamos vestir as meninas como meninos. Então faltava no time um espírito de elegância, feminilidade. Agora os shorts estão mais curtos, os cabelos mais arrumados. Não são mulheres vestidas de homem.” Porque, claro, o importante para a CBF é a sensualidade das jogadoras, seu potencial para atrair o olhar babão do torcedor, não sua habilidade com a bola.

O sexismo e a homofobia continuam firmes e fortes na Fifa e no futebol – basta considerar que as próximas duas Copas do Mundo de Futebol Masculino acontecerão na Rússia e no Qatar, dois países com leis anti-LGBT. “As ações da Fifa valem mais que mil palavras, e sua mensagem para jogadores gays é dolorosamente clara”, escreveu o jogador Robbie Rogers, declaradamente gay, para o jornal USA Today. “Não é apenas que eles não nos apoiam, nossas vidas não importam [para a Fifa].”

E apesar do descaso dos dirigentes de seu próprio esporte – que submeteu as jogadoras a condições insalubres durante as partidas – as atletas do futebol feminino seguem em frente, e, corajosamente, vivem abertamente sua sexualidade e servem de exemplo para garotas de todo o mundo. Enquanto o varonil futebol masculino vive a ilusão coletiva de que não há homossexuais em campo, pelo menos 15 jogadoras e duas técnicas são abertamente lésbicas. Estrelas do esporte como Abby Wambach e Megan Rapinoe fazem questão de demonstrarem seu afeto por suas parceiras da mesma forma que jogadoras heterossexuais como Sydney Leroux fazem com seus parceiros.

Certamente não houve uma conversão em massa para a homossexualidade entre os presentes nas arquibancadas quando viram duas mulheres se beijando, como temem tantos conservadores. Mas, com certeza, como temem esses conservadores, as craques serviram (e servem) de exemplo e inspiraram todos aqueles que precisam de um modelo positivo para si – seja qual for sua sexualidade. Graças às jogadoras, não aos jogadores, LGBTs conseguem aos poucos serem incluídos nos esportes. “A inclusão de LGBTs nos esportes é importante porque todos merecem se expressarem da maneira como se sentem mais confortáveis. Ponto final”, declarou Briana Scurry, goleira da seleção dos EUA de 1994 a 2008, vencedora da Copa Feminina de 1999 e duas vezes medalha de ouro nas Olimpíadas.

Que mais espaço se dê na mídia, principalmente a brasileira, para essas valorosas atletas. Que o brasileiro se preocupe mais com os feitos de Marta que com as dedadas que chilenos dão em cavanis.

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5 comentários

felipe

O futebol feminino está de parabéns Visibilidade para
as Lésbica

enquanto no masculino os gays não podem participar de nenhum esporte

Acho um absurdo

Eduardo

Nos esportes tem uns monte de mulheres lésbicas assumidas.
Enquanto no masculino tem de ficar dentro do armario?

Camy

Sempre detestei como a midia trata as meninas do futebol… EUA parecia que elas tinham voltado de uma guerraguerra todo mundo festejando… enquanto aqui nen se falo sobre elas… ridículo esse país…

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