Gärtnerplatz, a casa dos gays (e de Freddie Mercury) em Munique

Fundado ao redor de um teatro, Gärtnerplatz é o bairro de Munique dedicado à diversidade, com uma história LGBT que teve início com um rei gay, passa pelo líder o Queen e continua até hoje

por Marcio Caparica

Mundo BiUm dos bordões a respeito do mundo teatral é o velho adágio de que nele “é tudo puta e viado”. O que esperar de um bairro que cresceu em volta de um teatro? Exato. Essa é a origem do Gärtnerplatz, bairro em que está concentrada a cena gay de Munique, na Alemanha. Faz sentido que essa região tenha sido o lar de Freddie Mercury, o astro pop mais teatral dos anos 1980. Com o passar dos anos, a prostituição deixou a área, e agora restam os gays – que, por causa da gentrificação, receiam também terem que abandonar os quarteirões que ajudaram a valorizar.

O coração da Gärtnerplatz é a praça de mesmo nome, construída em 1860 e batizada em homenagem ao arquiteto Friedrich von Gärtner. Encostado no jardim da praça está o Gärtnerplatz Theatre, fundado há 150 anos pelo rei Ludwig II da Bavária (que, aliás, era gay). O teatro era voltado para o entretenimento da plebe, que não conseguia frequentar os teatros voltados para a corte e os endinheirados. Logo os empregados do teatro instalaram-se nas quadras a seu redor. Numa época em que não havia muita diferença entre ser atriz e prostituta, não é de se espantar que a área se tornasse um dos “red light districts” de Munique.

Hotel Deutsche Eiche: janelas pintadas para esconder o que gays faziam no lado de dentro.

Hotel Deutsche Eiche: janelas pintadas para esconder o que gays faziam no lado de dentro.

Entre os marcos históricos da vivência LGBT desses arredores está o hotel Deutsche Eiche (“Carvalho Alemão”), que há mais de cem anos é o ponto de encontro da população schwul (“gay”, em alemão). Em sua entrada exibem-se antigas janelas pintadas com cenas campestres da Bavária, feitas com o intuito de impedir que os transeuntes na calçada conseguissem ver o que rolava dentro de seus salões numa época em que a homossexualidade era proibida. Hoje a diversidade, mais que respeitada, é incentivada, e famílias almoçam no restaurante do hotel enquanto outros clientes rumam direto para o balcão para entrar na sauna que funciona na parte de trás do andar térreo.

Caminhar por Munique é uma delícia, e em Gärtnerplatz, ainda mais. A pequena rotatória ao redor da praça leva a várias ruas arborizadas em que se encontra todo tipo de loja, várias delas ostentando com orgulho a bandeira do arco-íris. Em poucas quadras chega-se ao Viktualienmarkt, o mercado onde os locais compram frutas de todas as estações, vendem artesanato e bebem cerveja.

Entre 1979 e 1986 Freddie Mercury, vocalista e líder da banda Queen, escolheu Munique, e Gärtnerplatz em particular, para passar seus momentos felizes. Nessa cidade, o astro (que ganhou o apelido de “Rainha da Bavária”) conseguiu encontrar um lugar onde podia viver sem os tabus britânicos, promover festas B-A-P-H-O e, no entanto, contar com a discrição dos habitantes locais, por mais chocados que estivessem. Um de seus lugares preferidos era o bar Old Mrs. Henderson, hoje transformado no bar Paradiso. Foi lá que ele promoveu sua festa de 39 anos, filmada para espantar toda a posterioridade mundial. Quem quiser ter uma ideia do que eram as festinhas de Mercury pode conferir no vídeo abaixo.

Gärtnerplatz já foi (e continua sendo) cenário de muita causação, mas está longe de ser uma área proibida para menores. Pelo contrário: segundo os locais, é cada vez maior o número de famílias que está se mudando para a área. Tanto interesse pela região está fazendo os preços subirem, e, temem os gays old-school, pode acabar fazendo com que a cultura schwul seja expulsa do bairro, fazendo com que os homossexuais busquem outros lugares mais baratos para se instalarem, como as meretrizes de outrora.

E já que você já está em Munique…

  • Saindo de Gärtnerplatz, vale a pena seguir até a Müllerstr., onde estão vários bares gays para todos os gostos. Goste você de bears, fetiche, twinks, modernos, uma caminhada por essa rua vai oferecer algo de interesse.
  • A Oktoberfest acontece nas duas últimas semanas de setembro e na primeira de outubro. Na primeira semana acontece o Rosa Wiesn, parte dessa celebração à cerveja dedicada apenas para a população LGBT.
  • Ainda dá tempo de pegar o Pink Christmas, a feira de Natal de Munique também voltada para o público LGBT. Esse ano ela vai de 26 de novembro a 23 de dezembro. Oportunidade de conhecer gente e comprar coisas muito bacanas.

Viagem realizada a convite do Centro de Turmismo Alemão.

Apoie o Lado Bi!

Este é um site independente, e contribuições como a sua tornam nossa existência possível!

Doação única

Doação mensal:

Um comentário

João P.

Próximo destino: bairro de festas da Rainha da Bavária, almoçar depois de curtir um sauna e visitar uns bares bacanas :v

Eu amo o natal e eu amo gays (-q), então eu estou mais que na expectativa de futuramente curtir uns natais em 50 tons de rosa \z

Comments are closed.